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sexta-feira, 16 de março de 2012

O Pai do Bares...

Meu Pai foi um dos grandes empreendedores da Ilha...
Foi proprietário de muitos comércios...banca de frutas no Mercado Público, Casa das Frutas, Cristal Lanches, Bar Universal, Alvorada, Bar Coral, Mercearia Daniela, Padaria União, Pedrita...e muitos outros...
E quando ele se foi deste Planeta...o escritor Sergio da Costa Ramos, que era um dos frequentadores dos Bares do meu Pai, escreveu em sua coluna no DC...
Deixo para conhecerem um pouquinho, da grandiosa história que meu contruiu...




O Pai dos Bares

Um bar conta a história dos que      viveram e fizeram a tradição do seu recanto, como a bela novela do      [libar] na Ilha de Santa Catarina. A pobre vila de N.S. do      Desterro já tinha 44 bares lá por 1765, um verdadeiro espanto: as      casas de “família” somavam pouco mais de 200. Mas boteco é o que      não faltava, apesar do imposto do Marquês de Pombal: 0,2% de todos      os “spirits” eram recolhidos para a Corte de Lisboa, depois do      sinistro terremoto de 1755, “para ajudar na reconstrução” da      metrópole.


Os bares do “meu tempo” – anos      1960 – acabam de perder uma figura histórica, como trouxe à luz a      sempre bem informada coluna do Cacau Menezes. Morreu Orlando      Machado, “pai” dos bares Universal, Marítimo, Alvorada, Cristal,      Elite, Coral e Casa do Chope – e, de quebra, das lanchonetes Casa das Frutas e Padaria carioca.


Não havia madrugada boêmia na Ilha      sem o “Bauru” do Alvorada ou a lingüiça frita com pirão branco do      Universal. Nunca se viu bar tão fiel ao próprio nome: Universal.      Para o seu modesto salão confluíam os bêbados de todas as classes      sociais, os intelectuais que chegavam da “Faixa azul” do Cristal      Lanches, os jovens famintos egressos das artes sexuais da Vila      Palmira ou até os caçadores de “mariposas” tardias, que se valiam      da baixa oferta para fechar o último programa da noite.


Na atmosfera enfumaçada, voava a      bandeja do Feio, garçon mais popular da casa, arremessando o prato      mais sofregamente pedido e apreciado:


- Mais uma calabresa frita com      pirão d’água!


Entre Brahmas e brumas, a “raça”      aprofundava o “debate” rumo aos albores da manhã que chegava,      entre moscas, mariposas e mentes luminosas, que derrubavam      governos ou, modestamente, preparavam-se para “matar” a primeira      aula de Direito Romano na faculdade não muito distante dali –      Esteves Júnior, fundos para a rua Tenente Silveira.


Havia vida cultural na Floripa      provinciana, onde as crianças bebiam como adultos e os adultos se      divertiam na noite-criança, vindos, por exemplo, do coquetel de      lançamento da nova Editora Sabiá, reunindo em noite memorável os      cronistas Fernando Sabino, Rubem Braga e Stanislaw Ponte Preta, no      velho casarão da Reitoria da UFSC, às margens da Bocaiuva, hoje      tristemente transformado em guarnição militar. Ou chegavam do      Teatro Álvaro de Carvalho, onde, pela enésima vez, os muito jovens      não perdiam a revolucionária montagem de “Hair”, com direito à      cena do lençol, “mons venus” à mostra, aí incluída a floresta de      Sônia Braga, ao som de “Aquarius” e “Good Morning Sunshine”.


Corriam os alegres anos 1960,      pontuados por letras e músicas eternas, assinadas pelos maiores      gênios da MPB: no verão de 1963, por exemplo, já tocavam “na      rádio” hinos como “Garota de Ipanema” (Tom e Vinicius), “Marcha da      Quarta-feira de Cinzas” (Carlos Lira e Vinicius), “”Mas que Nada”      (sambinha de Jorge Benjor), “Samba do Avião” (Tom Jobim), “Só      Danço Samba” (Tom e Vinicius) e o primeiro vagido da Bossa Nova,      “O Barquinho” (Menescal e Boscoli).


Havia mais método na nossa loucura      – e talvez mais álcool – mas nenhuma droga alucinógena, a não ser      o luar a céu aberto no bar do Nego Nina, Coqueiros, onde nos      encharcávamos de Cuba Libre, enquanto os debruns da alvorada      desenhavam o perfil do Cambirela.


E, por falar em Alvorada, era a      hora de dar de comer à caveira inebriada. Pedir um Bauru no bar da      Felipe Schmidt – e era ele, o falecido Orlando Machado, quem      garantia o nosso remédio: um sanduba no fim da madruga.


Meu amigo etimógrafo e planetário      romancista, Deonísio da Silva, é quem garante: Bar também é      Botica. Botequim: do italiano botteghino, diminutivo de bottega,      bodega, botica.Onde se comprava de tudo, da lingüiça do Universal      aos “sais” para aliviar o porre.


Obrigado pelas linguiças (êpa!) que o Feio nos servia tão lindamente, Orlando Machado!


Que Deus te acolha com um Bauru celestial na madruga do Firmamento…


(Sergio da Costa Ramos-DC: 28/01/11)


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