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terça-feira, 31 de maio de 2011

Filósofo de Bar...

Mais uma crônica de Sergio da Costa Ramos, do DC, sobre alguns dos bares do meu pai...
Alvorada e Universal...
Fizeram parte da história boêmia da Ilha...


FILÓSOFO DE BAR
por Sérgio da Costa Ramos / ilha de santa catarina


Posted on maio 29, 2011 9:20 am
by Equipe Palavreiros da Hora


Não havia madrugada boêmia na Ilha sem o “Bauru” do Alvorada ou a linguiça frita com pirão branco do Universal.

Nunca se viu, na história dos botequins mais venerados da Ilha, um bar tão fiel ao próprio nome:Universal. Para o seu modesto salão confluíam bêbados de todas as classes sociais, dos intelectuais que chegavam do Cristal Lanches aos jovens famintos, plenos de testosterona, egressos das artes sexuais da Vila Palmira. Ou até os caçadores de “mariposas” tardias, que se valiam da baixa oferta para fechar o último programa da noite.

Entre brahmas e brumas, a “raça” aprofundava o debate rumo aos albores da manhã – que se produzia entre moscas, mariposas e mentes luminosas, derrubando governos ou, modestamente, preparando a gazeta da primeira aula de Direito Romano na faculdade. Não muito distante dali _ rua Esteves Júnior, fundos para a Tenente Silveira.

Foi numa noite de “máximas e mínimas”, quando todos já estavam “pra lá de Bagdá” – e os garçons arrastando os móveis para cerrar as portas – que o filósofo ilhéu José Hamilton Martinelli lavrou a frase imortal:

- Vamos pedir a saideira que é pra manter odesequilíbrio…

O entardecer da sexta é o supremo momento da libertação, quando a última luz do poente se esconde por trás do biombo azul da Serra do Mar.

Basta raiar a aurora de uma sexta-feira e a sua exclusiva atmosfera começar a inocular no ser humano a “comichão” do bem-viver, que se irradia pela epiderme e que repercute nos lábios sedentos, prelibando o primeiro gole.

Os mais “descompromissados” começam bem cedo. Antes do meio-dia, já enforcam o serviço, suspendem as “obrigações de fazer” e estacionam em algum alambique amigo, na orla do mar ou no Mercado _ onde houver um “Santo” para receber uma xepa, o tradicional “golinho” lançado ao chão, para dar de beber aos mestres que já se foram.

Assim como há, na liturgia cristã, o momento certo de erguer o cálice, há na vida “paisana” o momento ideal para escolher a bebida certa.

Era o que também dizia o poeta Vinicius, só que a propósito de mulher:

- Bonitonas ou bonitinhas, todas têm a sua vez ao longo de 24 horas…

Bebida é igual. Fernando Sabino, o cronista e o romancista que marcou gerações com O Encontro Marcado, era um bebedor “etilicamente correto”. Cumpria um imaculado ritual de “tempo, lugar e líquido certo”, repugnando-se com qualquer quebra dessa etílica liturgia.

- Bebida tem muito a ver com a hora e com o dia. É como roupa de mulher. Cada drinque deve ser servido no copo adequado – e com gelo de máquina, prontinho para ser fotografado para alguma revista colorida, em impecável papel “couchê”.

O gim-tônica, por exemplo. É bebida de verão. E só se deve tomá-lo antes do almoço, e um só, de preferência de frente para o mar, “aos sábados, domingos e feriados”.

Gim não combina com qualquer forma de trabalho, nem mesmo o de renovar o gelo do copo, como se faz com o uísque, bebida “noturno-vespertina”, só palatável depois do “Angelus”.

Chope também tem hora e estação. É bebida para a primavera-verão – um “estupidamente-gelado” não combina com o inverno, diante do horror que causaria ao “rito” o cidadão ter que usar luvas para segurar o copo.

Conhaque só se deve tomar no Inverno – de lareira acesa, antes que nos enrosquemos com nossa “coberta de orelha”, naquele nunca assaz repetido exercício que gerou a humanidade.

As bebidas brancas, como o “poire” e as cachaças, têm lá a sua vez – embora prefira os uísques, saiotes de bom caráter e melhor cor – aquele “âmbar” ao “som” do chacoalhar do gelo.

E como hoje já é sexta, véspera da glória do sábado, quando o bar vira o lar, ergo um brinde aos caros leitores – e a todos os filósofos e apóstolos de bar, estes seres iluminados, que sabem enxergar com extrema lucidez os caminhos da embriaguez.



E Vinicius Alves, escreveu sobre o Universal...
 
O UNIVERSAL

(Hamilton Alves)

Numa crônica recente, publicada neste blog (creio que ainda deve figurar nele), se já não foi para a outra página, Sérgio da Costa Ramos vem de citar o Universal como um dos bares que, ao longo de sua vida boemia (que não foi tanta assim ou foi e não sei, somos de gerações um pouquinho distantes uma da outra), se notabilizou. O Bar Universal não fechava as portas nunca. Cruzava as madrugadas, altaneiramente, recebendo todos os trânsfugas dos mais diferentes estratos sociais, desde os clientes mais modestos, prostitutas de nossos prostíbulos mais notórios (isso quando a noite ainda era uma criança, parafraseando Antonio Maria), até as mais destacadas figuras do high society, além de baladeiros notórios da periferia, cantores, atores, músicos, poetas, bebedores, toda uma fauna diversificada e estranha. Todos ali comungavam o desejo de expansão do ramerrão trivial da vida.

Como diz bem Sérgio, outro nome não calharia ao bar como o que lhe foi dado, universalizando seus freqüentadores dentro de uma categoria única: notívagos. Ou amantes da noite.

O Universal ficava logo ali nas proximidades do Mercado Público, ao lado do hotel de alta distinção à mesma época, o Querência.

Todo mundo confraternizava. Cada qual curtia a noite numa boa. Sem briga, sem confusão, sem atropelos de qualquer natureza. Era uma comunidade pacífica, que o clima do bar parecia favorecer.

Foi ali que, certa madrugada, houve a grande e comovente despedida do poeta Florideu Gervásio (nome de beleza incomparável, tão belo quanto à criatura que designava).

Florideu era promotor de shows de sua mulher pianista. Quando nos conheceu, conviveu conosco até o último dia, nem se recordou de assistir à estréia da mulher nem do último recital que dera na Ilha. O tempo era curto demais para que se dedicasse a tais formalidades, ele que era de uma informalidade absoluta. Um ser diferente de tantos outros viventes que até então conhecera. Um sexagenário que dava em todos nós um banho de juventude. E de espírito de humor.

Florideu amargou uma dura decepção quanto se apaixonou por uma ilhoa, que o recusou, levada em conta, de certo, a diferença de idade. Mas no mais reconhecia nele um par perfeito.

Na derradeira madrugada, recitou-nos de improviso um belíssimo poema, que à medida que o dizia o anotava num papel de embrulho, que me acompanhou em minhas andanças por longos anos. Até que o perdi. Terminava assim:

“Mistério, mistério,
Na vida e na morte,
Tudo é mistério”.


(http://www.olhoefolego.blogspot.com/)



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